00 - INTRODUÇÂO ao texto PODER ORIGINÁRIO

26/04/2013 07:57

INTRODUÇÃO

 

O que se espera e as ferramentas conceituais para entender o Poder Originário.

Trata-se da vigilância crítica renovada continuadamente por meio do polo epistemológico objetivando a ruptura dos objetos do estudo deste capítulo com os do senso comum.

 

  1. – Objetivos e as dificuldades a serem vencidas; 0.2 -  posicionando e distinguindo os termos;  0.3 – o Estado como superestrutura;  0.4 – a clara consciência dos seus projetos; 0.5 – filtros e mediações da autoridade;  0.6 – o Poder Originário e a era numérica digital.

                                                                          

 

0.1 -  OBJETIVOS e as DIFICULDADES a serem VENCIDAS.

 

Não se deve confundir desmantelamento do estatismo

com a liquidação irresponsável do Estado”.

Merquior, (1990: 15)[1].

 

O presente texto possui como objetivo imaginar soluções para problemas que afligem o ser humano, física ou simbolicamente. O termo problema é aceito aqui como um obstáculo que impede uma solução imediata ou ao longo do tempo de algum projeto. Qualquer tese possui no seu núcleo um problema a ser solucionado. No caso do Poder Originário este pode ser estrutural ou e persistente ou ao contrário superficial, temporário e pontual. Os problemas estruturais e persistentes são basicamente problemas que necessitam do esforço coletivo de uma nação. Enquanto os episódicos e pontuais necessitam de da atenção dos municípios. O presente texto busca motivações para exercitar, nesta linha, a potência humana na representação dos seus projetos. Crença na forma da concepção de Sperber e que Oliven[2]  registrou (1992 p.24) como  “é o que chamamos de ‘convicções’, ‘persuasão’, ‘opinião’. Para, decidir se alguma crença é racional, necessitamos saber não somente seu conteúdo, mas também em que sentido ela é acreditada”. Esta convicção coletiva cria a opinião, a alimenta, faz circular e a reproduz, fundada na convicção de que o SER humano é portador das energias da sua nação, do seu povo e do seu Estado. As energias de uma nação surgem no lento e cumulativo das vontades aglutinadas e geradas por um povo. Esta nação alimenta o projeto de se transformar num Estado soberano conforme Weber (in Oliven, 1996: 15). Uma nação não se transforma num Estado soberano tão somente quando ela atinge o estágio da instalação do poder executivo, do judiciário ou do legislativo. Estes tendem a implantar, de fato, a perpétua estagnação num reducionismo que lhes é favorável e que bloqueia a necessária transformação continuada de um Estado. Estagnação que produz mais mal do que bem para esta nação. Mal que se expressa na heteronímia da vontade coletiva entregue a um indivíduo, grupo ou partido único.

Contra esta estagnação advoga-se, aqui, o fluxo perpétuo do poder[3] que possui uma origem, uma potência e um fim e que perpassa os seus agentes. Agentes que se encontram na origem do poder de um Estado. Estado ao qual o Poder Originário confia a decisão entre aquilo que é do mundo das mentalidades e o seu embate e contradições daquilo que é alienavelmente da Natureza[4].

 Na busca teórica evita-se avançar em direção de uma definição única, linear e fixa do Poder Originário diante do amplo espectro de conceitos, de paradigmas e de axiomas que se levantam numerosas dúvidas, contradições e conflitos. Segue-se o conselho de Aristóteles 1973: 135 - Tópicos VII 5 155a 5)[5] de que o mais fácil de tudo é demolir uma definição. Porque, devido ao número de afirmações nela implicadas, a definição nos oferece o maior número de pontos de ataque, e, quanto mais abundante for o material, mais depressa surgirá um argumento, pois mais probabilidade de se insinuar um erro num grade do que num número pequeno”. Apesar de carecermos de uma definição unívoca e linear do Poder Originário, muito poucas pessoas, do mundo empírico atual, podem-se julgar isentas de alguma relação, ou mesmo, da tutela de algum Estado nacional. De outro lado, poucas pessoas examinam igualmente a Natureza como examinam o mundo conceitual. Preliminarmente é necessário admitir que o mundo construído pelo homem  deriva do seu universo conceitual. Este detido e minucioso exame daquilo que a nossa mente produz no mundo empírico  Hannah Arendt colocou (1883: 188) diante de nós:

“à subjetividade dos homens opõe-se a objetividade do mundo feito pela mão humana, muito mais que a sublime indiferença da Natureza virgem cuja força elementar esmagadora nos obriga a girar sem descanso no círculo de sua biologia perfeitamente ajustadas a um vasto ciclo de economia da natureza. É somente porque que nós fabricamos a objetividade o nosso mundo com aquilo que a natureza oferece, porque nós o construímos inserindo no espaço da Natureza e que assim nos sentimos protegidos, que nós podemos  olhar a natureza como alguma coisa «objetiva». Além de um mundo entre os homens e a Natureza, existe um movimento eterno, não existe objetividade”.

A delegação da potência de uma Nação conferiu ao seu Estado encontra ou inventa a formalização e a definição neste mundo conceitual na distinção entre potencia e força. Arendt acentuou (1983: 260/1) que:

 “a potência é sempre uma potência possível, e não uma entidade imutável e segura, como a energia ou a força.   A potência, como a ação, é ilimitada; ela não possui as limitações físicas na natureza humana, na existência corporal do homem, como a força”.

Esta potência possibilitou a origem da nação e transformação num suas próprias competências e que nenhuma força corporal pode aniquilar. Neste amplo e indefinido campo da potência que se materializa num Estado que necessita fazer emergir, conservar e reproduzir um governo nacional. Governo que na contemporaneidade é proveniente das circunstâncias provocadas pela era industrial onde recebeu sua forma legível e as três funções do seu poder. Um governo, central monolítico é a forma histórica mais legível e forte da potência da cultura do poder.

Os conceitos e os termos são admitidos aqui como ‘entes primitivos’ de uma narrativa. São concebidos como algo sobre o qual se fala sem uma definição possível.  Porém são admitidos e constam do núcleo de uma ciência. Não esgotam significados e não tornam o seu significado unívoco, linear, reversível. Quando as Ciências Exatas afirmam que ‘todo triângulo é um polígono de três lados’, estão próximas do significado unívoco, linear, reversível. Reversibilidade possível na medida em que o inverso também é verdadeiro. Assim podem afirma que ‘todo polígono de três lados é um triângulo’. O ponto, a linha e o plano são entes que não possuem matéria, contudo a Geometria é construída com eles. Na Geometria é impraticável a sua concepção com ENTES do mundo real. Um ponto, uma linha ou uma superfície não possuem matéria nas Ciências Exatas. Toda a construção da teoria gira ao redor deles sem que seja possível delimitar a sua natureza e a essência, muito menos a sua materialização unívoca. Os entes primitivos discursivos constroem as suas narrativas das histórias nacionais. São arbitrariamente delimitados pelo hábito discursivo da cultura política dos seus usuários. Os governos centrais criam as suas narrativas ao estilo das  dinastias dos faraós egípcios. A narrativa do histórico do Poder Originário não é evidente diante da potência discursiva dos governos centrais. O Poder Originário aceita as narrativas estatais como próprias carente de análise do discurso de suas próprias versões. Os olhares, a atenção e os votos são para aqueles que se dizem representa-los e exibem narrativas eivadas de vanguarda. Assim produzem uma alodoxia que se sustenta na narrativa da última novidade europeia ou norte americano. Escapa do horizonte conceitual do Poder Originário fazer a pergunta  de Schwartz (in Mota, 1980: 245)[6] “- o vanguardista está na ponta de qual corrida?

Conforme os autores Maturana e Varela afirmaram que as respostas irão depender das perguntas que dirigirmos a esta realidade camuflada. Escreveram (1996: 148)[7]admitimos conhecimento cada vez que observamos uma conduta efetiva (ou adequada) em um contexto assinalado, quer dizer, um domínio que definimos como uma pergunta  (explicita ou implícita) que formulamos como observadores”. O conhecimento que se busca  descobrir e evidenciar estão relacionadas com as perguntas relativas às competências, às proporções e aos limites de circulação do Poder Originário no âmbito das nações, das instituições e dos grupos humanos. Os ardis que encobrem o Poder Originário geram os mistérios que ocultam o seu fluxo, a sua potencialidade e a sua natureza. Porém eles se evidenciam para a História naquilo que Pierre Bourdieu denominou de “habitus”. Ele escreveu (1994: 91)[8] que o:

 “produto da história, o habitus produz práticas, individuais e coletivas, portanto história, conforme esquemas engendrados pela história; ele assegura a presença ativa de experiências passadas que, depositadas em cada organismo sob a forma de esquemas de percepção, de pensamento e de ação, tendem, mais eficazmente do que todas as regras formais e de todas as normas explícitas, garantir a conformidade das práticas e sua constância através do tempo”.                                           

Para redescobrir, e evidenciar o Poder Originário impõe-se enxergar por cima da “escravidão voluntária[9] inculcada  pelo “habitus”  seculares de uma heteronímia e um dos obstáculos subliminares. A ‘escravidão voluntária’ é conveniente para os ardis de obscurecimento do Poder Originário. Ardil que encobre a heteronímia da inteligência, da vontade e do direito individual do Poder Originário.  O seu lucro é contornar qualquer sanção moral cuja culpa é assumida ou e jogada  sobre o poder estatal personalizado em um único líder.

Para evitar resvalar para o abismo do “governo é culpado de tudo” é preciso distinguir o executar (fazer) do  agir . Hannah Arendt realiza esta distinção quando afirma (1983 p.286) que “Executar (archein) e agir (prattein) podem tornar-se duas atividades absolutamente diferentes, e o inovador é um chefe (arhon no  duplo sentido do termo)  que «que não tendo como agir (prattein) governa aqueles que são capazes de executar”.

 

0.2 -  POSICIONANDO e DISTINGUINDO os TERMOS.

Apesar dos ‘entes primitivos’ serem indefiníveis é possível posicionar os termos nos seus devidos lugares de qualquer discurso.  Aristóteles, o mestre da Retórica, recomendava fazer estes posicionamentos e distinções no inicio de uma argumentação, texto ou narrativa. Ele afirmava (1973: 139. Tópicos VIII  1 155b):

 “cabe discutir os problemas relativos à ordem e ao método que se deve seguir ao propor questões. Todo aquele que tenciona formular questões deve, em primeiro lugar, escolher o terreno de onde lançará o seu ataque; em segunda, deve formulá-las e dispô-las uma por uma; e, por fim, passar a apresentá-las ao seu adversário”

Mesmo que estes termos constituam metáforas, eles servem para o discurso como “metaforai” atravessam a atual cidade Atenas sem se confundir ou definam a atual polis. Certeau valeu-se (1998: 199) desta imagem dos “ônibus da Atenas atual são  denominados de metaphorai;[10] os relatos atravessam e organizam lugares, selecionam e reúnem num só conjunto, fazem frases e itinerários, são percursos de espaços

O titulo Poder Originário reúne dois termos como uma metáfora o que necessitam serem sinalizados e considerados como “entes primitivos” do discurso. Nesta metáfora nem o conceito de PODER e nem o de ORIGINÁRIO  é suscetível de receber um sentido único, linear e reversível, ao estilo daquelas usadas nas Ciências Exatas. Para as Ciências Humanas parece que vale o que o literato mineiro Guimarães Rosa sentenciou (1963: 62)[11] que “o, real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”. Nesta travessia que nos socorre de novo é Aristóteles (1972: 243 Metafísica-II cap. II (4))é absurdo procurar ao mesmo tempo a ciência e o método da ciência: nenhum deles, pois, é fácil de apreender. Nem o rigor matemático se deve exigir em todas as coisas, mas somente naquelas que não tem matéria

No discurso coimbrão legalista percebe-se mais atenção ao método. A verdadeira ciência aberta a experiência e contradições no uso da natureza do Poder Originário petrificou-se e permaneceu restrito exclusivamente ao evento de uma Constituição.  Torna, assim,  o seu  conceito único, linear e apenas reversível ao seu antigo hábito e cultura e uso histórico. O presente texto discorda radicalmente deste hábito, desta tradição e do histórico da opinião geral deste uso restrito. Com esta discordância da opinião geral o presente estudo envereda pelo caminho da tese na concepção que Aristóteles lhe conferiu, ao afirmar (1973: 20. 104b 30 Tópicos I-11) que:

uma tese também constitui um problema, é evidente: pois se deduz necessariamente que ou a grande maioria dos homens discorda dos filósofos no tocante à tese, ou uma ou a outra classe está em desacordo consigo mesma, já que a tese é uma suposição em conflito com a opinião geral”. 

Admitindo este problema, porém, como um dos brasileiros cordiais, é possível ceder a precedência conceitual para o hábito desta respeitável Faculdade de Direito de Coimbra e mãe de todas as faculdades congêneres brasileiras. Porém o Brasil ainda continuaria no Regime Colonial se tivesse dobrado e seguido a tradição das leis de Coimbra. O Brasil teria remendos de uma constituição lusitana de origem arcaica e que pautaria os seus conceitos e as suas ações na sua lógica europeia de dominação. Contrariando esta lógica o Brasil tornou-se soberano e formalmente deixou de importar leis metropolitanas e o bacalhau. Ambos vinham secos e salgados da metrópole. Bastava hidratá-los com água doce tropical brasileira e ficavam prontos para o consumo humano.

Porém, no histórico deste uso do termo Poder Originário restrito ao evento de uma Constituição, o Brasil soberano, deveria seguir o velho hábito e a lógica coimbrã.  Assim convocou e reuniu os seus constituintes. Queria mostrar ao mundo que possuía, de fato e de direito, um Poder Originário legítimo e legitimado. A convocação do cidadão (ou súditos) constituintes, deveria ser realizada sem o apoio da realidade e de uma tradição inexistente ao longo dos 300 anos do Regime Colonial. Para constituírem um apressado assento eleitoral os áulicos, os atravessadores e os mediadores, dizendo-se governo, tiveram de debruçar-se teve sobre o vasto território nacional. Adaptaram-se apressadamente às condições brasileiras de 1823 para esta convocação e oferecida para os potenciais candidatos. Na prática estes imaginados candidatos ao Poder Originário só podiam ser os libertos, serem homens e com posses suficientes para a viagem e a estadia na corte pelo tempo necessário para elaborar o texto da 1ª Constituição do Brasil. Com muita boa vontade, e com arranjos de toda ordem, estes candidatos formavam um punhado de um ou dois por cento da população brasileira da época. Raros entre eles afinal se apresentaram, assustados ainda com os hábitos do Regime colonial no qual se criaram. Poderia ser mais uma armadilha legal como de fato foi e este gesto político deu errado. Encorajados e convencidos pela propaganda e marketing imperial pensavam que a tarefa era séria e começaram a trabalhar. Mas eis que, diante de seus primeiros rumos que sonhavam para um Brasil soberano de fato, todos os alarmes começaram a soar em uníssonos. Os sábios áulicos, os mediadores e tuteladores do jovem e impetuoso imperador o levaram dissolver esta pouca vergonha e contrária a toda nobre tradição constituinte colonialista lusitana. Com esta tutela imperial o Brasil chegou à República. Esta se instalou provisoriamente em 15 de novembro de 1889. As antigas províncias imperiais foram elevadas a Estados “soberanos” por mágica da proclamação do seu decreto nº 01.  No Rio Grande do Sul os constituintes - da famosa de 14 de julho de 1891, reduziram-se à uma única luminosa e mitificada cabeça do presidente do Estado “soberano”. Este gesto e tradição inspiraram e estiveram por trás da convocação e solene da Constituição de 1934 do Brasil, denominada a ”Polaca”. Novamente os sábios áulicos, os mediadores e tuteladores do mentor do governo provisório, saído das armas no dia 24 de outubro de 1930, resolveram ignorar todo o seu dito Poder Originário. No lugar da “Polaca” instalaram o Estado Novo. No dia da bandeira nacional de 1937 encenaram a queima de todas as bandeiras dos Estados “soberanos” regionais, ato que presidiram pessoalmente.

Estes são apenas alguns lances históricos dos mais conhecidos do que alguns querem como conceito definitivo de Poder Originário Brasileiro. Trabalham para ocultar o fato de que o poder circula permanentemente num sistema que se espelham naqueles que conseguiram capturar uma parcela mínima desta cultura nalgum tempo. Sistema e cultura Ladrière entende (1977: 206)[12] como

se é possível usar o termo «sistema» para marcar a objetividade das formas culturais e seus modos de evolução, é necessário precisar que se trata de um sistema do tipo plástico, com ligações pouco rígidas, eminentemente deformáveis, e não um sistema do tipo determinista, no qual toda modificação local repercute inevitavelmente na totalidade das partes”.

Totalidade das partes que facilmente confunde inteligência com sabedoria. Distinção que Aristóteles já havia realizado quando afirmou (1973: 349 -1143ª.10) que “a inteligência e sabedoria prática não são a mesma coisa. Esta última emite ordens, visto que o seu fim é o que se deve ou não deve fazer; a inteligência pelo contrário limita-se a julgar”. Obstinam-se ao mero plano da inteligência na qual encontram argumentos e  reconhecem o óbvio de que o Poder Originário possui a sua fonte. Porém atropela a sabedoria para infiltra-se como mediadores, tuteladores e atravessadores em tudo e se reproduz em qualquer grupo, atividade coletiva e ação humana. Tapam os olhos, os ouvidos e embotam toda a sua sensibilidade humana para arrastarem história afora o seu conceito coimbrão intangível de Poder Originário. Colocam como cláusula pétrea, esta sua elevada definição intelectual, premissa inarredável e com tabu intocável.

O Brasil continua a importar bacalhau seco e as leis. Bacalhau que agora pode vir dos países escandinavos e as leis de qualquer cultura. Bacalhau importado que ameniza o árduo labor de produzir alimentos para a sua rica variedade culinária no fértil solo nacional. No entanto o bacalhau seco confere, ao seu consumidor, o estatuto de rico. Ricos que não ignoram as altas taxas de esclerose da qual o sal é um dos responsáveis diretos. As leis importadas contornam e evitam o dolorido ato de ler e de pensar para transformar as suas contradições em complementariedades políticas para atingir um mínimo de identidade brasileira.

Não há recusa de que alguém continue a defender os conceitos arcaicos e do senso comum do Poder Originário confundir-se como formalismo de uma constituinte. Porém no presente texto este conceito e o senso comum são transgredidos.  Didi- Huberman (1995: 20)[13] avisa “a transgressão não é uma recusa, mas a abertura de um conflito, de uma caminhada crítica, ao lugar no qual encontrará, num tal choque, transgredido”. Inicia-se, pois, uma caminhada crítica na qual um projeto preliminar é colocado para entender um mínimo de identidade do Poder Originário estranho ao conceito arcaico e do senso comum consagrado. No presente textos segue-se Giulio Argan na sua concepção (1992: 23)[14] de que projeto “é uma finalidade da ação, que realizando-se no presente, assegura um valor permanente histórico. Fundamenta a ideia da ação histórica”. Só mediante um projeto será possível medir o que foi atingido, avaliar os resultados e recomeçar o que eventualmente deu errado. Medição, avaliação e recomeçar que dependem do grau de consciência que o projeto original suscitou no universo conceitual e produziu no mundo prático. Em relação ao termo ‘texto’  o intelectual Chartier se posicionou (1989: 59 e153) que eles são “construídos segundo modelos discursivos e de recortes intelectuais característicos de cada situação da escritura [...]os autores escrevem  textos”. Ou então o texto é maneira pela qual se deseja a historicidade de sua produção e a estratégia de sua escritura. Difere do livro no qual outros transformam os textos em objetos. Por esta razões este autor irá  remeter os seus textos para o âmbito da comunicação numérica digital e no qual o objeto será virtual. Mas potencialmente aberto para o objeto múltiplo da era industrial e os manuscritos da era agrícola

Neste e noutros conceitos, que se seguirão, é necessário concordar com tradicionalista Paixão Cortes[15] quando sentenciou (1984: 7) "o brasileiro fala muito, documenta pouco, analisa menos e conclui definitivamente, a sua moda, na hora que interessa”. Reducionismo que é a salvação e sorte daqueles que não querem mudar. A leitura restrita ao mínimo das necessidades básicas, impede qualquer ruptura epistêmica e incapaz de deixar um espaço conceitual para um autêntico e coerente Poder Originário. Vazio que constitui o terreno fértil para a onipotência que para Arendt (1983: 40) “depende de acordos incertos” e circula muito distante da potencia que age no  âmbito de acordos sociais possíveis.

Os conceitos apropriados para a percepção manutenção e reprodução de acordos sociais possíveis necessita preparação e correção para produzir algo de útil. O senso comum solicita apenas quer que o seu interlocutor ‘mostre’ competências. Estes ‘mostrar’  para  o pensado e esteta Pedrosa (1986: 122)[16]

o que se exprime por si mesmo na linguagem não o podemos expressá-lo por meio da linguagem’, o que equivale a afirmar, ‘o que se pode mostrar não se pode dizer’...Mostrar pertence a outras categorias de conceituação; não é fixado pelo esqueleto lógico; sua estrutura já não é intrinsecamente linguagem. Se ‘mostrar’ significa, com efeito, ‘expressar-se espontaneamente’, é do domínio ainda intrinsecamente  psicológico , isto é, da expressão. Esta efetivamente surge, Quando da organização das partes sensoriais do todo perceptivo aparecem. Espontânea ou ingenuamente, com caracteres distintos dos dados sensoriais e físicos mensuráveis”.

Contra este senso comum do ‘mostrar’ o  intelectual Danto afirma (1993: 204)[17] que “a filosofia é pois literatura tanto mais que entre as condições da verdade figuram aquelas pelas quais ela é lida: ler tais textos supõe revelar o que nós somos em virtude da nossa leitura”.  Afinal mostramos o que somos naquilo que lemos.

Contudo todo este conjunto, objeto do presente estudo, pode ser remetido ao polo epistemológico que para Bruyne (1977: 35)[18]

exerce uma função de vigilância crítica. Ao longo de toda a pesquisa ele é a garantia da objetivação - isto é, a produção - do objeto científico, da explicitação das problemáticas da pesquisa. Encarrega-se de renovar continuadamente a ruptura dos objetos científicos com os do senso comum”

Como estamos no começo dos trabalhos temos convir com o mineiro Guimarães Rosa que a verdade não está no início nem no fim: ele está ao meio das veredas. No momento posicionamos e distinguimos os termos que se configurem para atravessar estas veredas para atingir o meio e depois o seu final.

 

0.3 - O ESTADO como SUPERESTRUTURA.

 

O poder personalizado do Estado Nacional continua ativo e representa uma das construções mais constantes e poderosas da humanidade. Este Estado é artificial e distinto da Natureza e no mesmo caminho da obra de Arte. A humanidade realizou, através dos tempos, os seus maiores feitos por meio do Estado. Pensadores, de grande expressão, estiveram mergulhados na árdua tarefa  de examinar o acúmulo que o Estado Nacional traz para a cultura e para a civilização.  A criação humana do Estado foi endeusada por teóricos como Fichte[19] e Hegel, questionada por Schopenhauer ou colocada em exame, como Max Weber[20]. Este último estava preocupado em entender esta criação humana e planejar os processos do seu funcionamento no âmbito de uma determinada sociedade. No contraditório, o ser humano natural, sempre sentiu um mal estar para construir e para conservar ativo um Estado, em especial, como civilização[21]. Contudo a ruína de um Estado foi sempre prenúncio e sinônimo de barbárie.

O grande problema é a percepção equivocada do Estado Nacional como algo natural, obscurecendo ou negando o trabalho da sua construção artificial. De fato este projeto transcende em muito o senso comum e aquilo que é dado aos sentidos humanos na sua vida diária. Não se nega este senso comum e vida empírica. Ele é extremamente importante para que exista transcendência, é o que Arendt reitera (1983: 272-362) quando afirma “se desaparecer a imanência e o mundo dado pelos sentidos será impossível a transcendência”. O índice desta artificialidade é que esta construção recebeu as mais diversas formas, ao longo dos tempos e dos lugares onde foi implementado. O que parece atravessar a sua construção artificial é a sua base material (infraestrutura) que age poderosamente sobre as posições, as definições e as escolhas de suas formas (superestrutura). A busca em relação ao Estado Nacional orienta-se em direção de uma metafísica de generalidades idealistas, sem considerar estes dois vetores como determinantes e únicos.

Gráfico 01 – A infraestrutura e o poder humano na diacronia e sincronia.

VEJA o GRÁFICO 01 em FOTOS deste BLOG

 

Não se pretende retomar os teóricos e pesquisadores que aceitaram, seguiram ou contestaram esta relação determinante, ou não, entre a infraestrutura e a superestrutura. Determinismo bebido e aceito num marxismo vulgar, divulgado à saciedade e experimentado na carne viva humana. Evidente que a mentalidade que defende o Poder Originário em oposição ao discurso por cima, fixo e unitário,  realizado por um Estado central, abre as portas para o reducionismo de uma pretensa dialética da totalidade na concepção de Fávero[22] ao registrar (1980: 19) que

 “a dialética da totalidade concreta não é um método que pretende reproduzir todas as implicações, fatores, mecanismo e efeitos sociais que interferem na produção de um evento, fato ou processo social. Ao contrário na explicação dialética, o conceito de totalidade é empregado como recurso interpretativo pelo qual visa compreender não a identidade, mas as diferenças em uma unidade, tal como se apresentam em determinada totalidade”.

O que se pretende aqui é o estudo do PODER ORIGINÁRIO e das circunstâncias para perceber como surge este fenômeno, se afirma e se reproduz nos grupos humanos distinguem e agem no espaço público entre as demais forças na totalidade da sociedade.  Na concepção de Arendt, (1983: 260) “público o é espaço potencial da aparência entre os homens agindo e falando”. Nesta percepção trata-se de construir conceitualmente a partir de tendências comuns reunidas no espaço público em comunidade. Comunidade que possui traços de identidade de origem predominante de signos a partir de um determinado projeto humano. Projeto explícito ou subliminar, negado ou desqualificado por forças concorrentes.

Situa-se o estudo empírico do Poder Originário com as suas circunstâncias do espaço público da comunidade nacional brasileira do início do terceiro milênio. Buscam-se eventos empíricos e pensa-los na construção artificial do Estado Nacional por meio de experiências que são causas de vertigens aos despreparados para pairar no espaço do tempo presente e sem a aparente gravidade do poder. No caminho deste pensamento da construção artificial do Estado Nacional, segue-se o caminho de Schiller[23] quando afirmou (1963, p.12) de que  “sabemos só aquilo que analisamos”. De outra parte nas Ciências Humanas esta análise supõe o que Durkheim[24] afirma (1983, p. 94) que “a primeira regra e a mais fundamental é a de considerar os fatos sociais como coisa”.  Esta operação é necessária, pois  Argan, argumenta (1992: 38) que “ao colocar objeto como coisa o sujeito constitui-se como algo distinto na arte. A coisa é monossemântica enquanto o objeto é polissêmico”.

 Existem evidentes dificuldades tanto nesta análise como na tentativa de tornar a construção do Estado nacional em coisa monossemântica. Esta tentativa enfrenta a imponderabilidade, vivida no espaço da 3ª onda[25], com uma não elaborada contradição entre a apregoada naturalidade e imortalidade de doutrinas e de ideologias, que teimam em se desmanchar no ar[26] junto com os seus tempos irreversíveis da fumaça das fábricas da era industrial. As doutrinas e as ideologias, vigentes e suportes da era industrial, tornam-se peças de museu.  Como criações humanas, estas doutrinas e as ideologias, também seguem as leis de entropia. Situam-se no que Bruyne denomina (1977: 51/2) de:  “objeto de conhecimento construído é uma tradução específica, do real, é um objeto que responde a leis de composição autônomas, construído por métodos explícitos. É um sistema simbólico, que difere, em natureza, do objeto real e, em complexidade, do objeto percebido”.

Os objetos de conhecimento apregoados pelas doutrinas, pelas ideologias e pelas práticas derivadas destes projetos, possuem destino semelhante daquelas que a humanidade teve quando terminou o tempo da era agrícola. Objetos que perderam a sua íntima e eficaz relação entre a sua forma e a sua função, tornaram-se peças de museu[27] o que não significa a sua destruição ou entropia. Ao contrário a humanidade os guarda e coloca estes objetos em evidência, em lugar privilegiado. Por meio deles  quer lembrar pontos cruciais de uma civilização. Se for o caso das Ciências Exatas e estes momentos forem personalizados pode-se pensar  em “Quarto Revoluções Tecnológicas. A 1ª a de  Nicolau Copérnico dizendo que não estamos no centro do universo; a 2ª de Charles Darwin provando que não somos animais superiores e totalmente desconectados dos outros animais; a 3ª de Sigmund Freud afirmando que não somos seres totalmente racionais e a 4ª de Alan Turing mostrando que não somos seres autônomos, mas sim inforganismos” numa síntese de Luciano Floridi, na obra “Filosofia da Informação” (2011-in Ruy Queiroz UFRGS)[28]. Estes pioneiros são lembrados nos museus pela luneta ad Galileu Galilei, pelos esqueletos das espécies, pelas obras de arte do pai da psiquiatria e pelos primeiros e arcaicos computadores de válvula e depois transistores.

Vale acrescentar que nos museus virtuais, as doutrinas e as ideologias, adquirem uma função completamente estranha à sua função original, sendo alvos de curiosidade. Eles migram para a função de peças da indústria virtual do turismo de massa, como a casa de Carl Marx em Trier. Mesmo que este museu seja apenas virtual, ao estilo daquele da Wikipédia e que as massas  de curiosos visitam pelas redes mundiais. Neste museus virtuais é possível apontar uma nova infraestrutura que está revolucionando a superestrutura e o exercício do poder coerente.

 

04 -  A CLARA CONSCIÊNCIA dos seus PROJETOS.

 

Antes, de mais nada,  é necessário concordar com Piaget quando afirma (1983: 231)[29] que “a tomada de consciência é sempre em parte uma reorganização e não uma tradução ou uma evocação”.  Apesar da objetividade desta consciência, proveniente da reorganização, as suas consequências e os seus subprodutos mentais, ela sempre foram projetada subliminarmente no inconsciente coletivo como uma segunda natureza. Esta objetividade pode constituir paradigmas que para Kuhn (1997: 66) “não precisam ser determinados por regras” ou então no mesmo  Kuhn, (1997: 13)[30]considero «paradigma» as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência”.

Nestes paradigmas subliminares os grupos humanos reorganizam, elaboraram, em todos os tempos, formas de comportamentos coletivos que querem uniformes e gerais nas suas ações. Paradigmas subliminares que se abastecem na fonte do senso comum. Só se problematizam quando questionados em interrogações escancaradas e públicas ao senso comum.  Questionamento que se realiza no presente texto em relação do Poder Originário que o senso comum quer derivado apenas de uma constituinte. Enquanto o problema permanece oculto ao senso comum prevalece o inconsciente coletivo que controla mentes e corações dos grupos humanos que adotam um repertório comum. Inconsciente coletivo que Pierre Bourdieu concebeu (1987: 103) como resultado material proveniente do mundo da ação comum, na qual  “progressivamente, com a divisão do trabalho aparece uma categoria de objetos apenas como pura significação”.  Seguindo esta pura significação, estes grupos humanos estão à vontade para seguirem caminhos e comportamentos diferentes. Seguem as suas próprias circunstâncias conforme o Tempo (Zeitgeist), o Lugar (Weltgeist) ou seu Grupo Social (Volksgeist).  Zeitgeist no qual estes grupos encontram a duração que conforme Bloch afirma (1976: 29) “o historiador não pensa apenas o humano. A atmosfera que seu pensamento respira naturalmente é a categoria da duração”. Enquanto nos grandes discursos hegemonistas planetários do Weltgeist[31] encontram saberes que são assumidos e convergem para núcleo da  Ecologia que os recebe e os  projeta de forma planetária para os mais variados campos. Já a Sociologia encontram acumulados relativos Volksgeist e provenientes de uma imensa gama de campos das Ciências Humanas.

No âmbito da História, da autêntica Ecologia e das Ciências humanas desenvolve-se uma epistemologia. Esta Bruyne concebe (1977: 42) como “um polo essencial da pesquisa no qual se situa a lógica da descoberta, como o da prova. Os pesquisadores estão na base, enquanto os filósofos estão no vértice, analisando os resultados dos pesquisadores”. Resultados que iluminam as concepções que suportam e que conferem a base do Estado Nacional como resultado da criação humana no âmbito da tripla dimensão do Zeitgeist, Weltgeist e do Volksgeist.

Gráfico 02 – Três vetores

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Os três eixos do Zeitgeist, Weltgeist e do Volksgeist podem ser associados ao resumo das três ontologias históricas de Foucault que Chartier apresenta (1998: 206) “do conhecimento quando a verdade que nos permite ser sujeitos, do poder dos sujeitos agindo sobre os outros e da ética como  agentes da ação ética”. Nesta tríplice ontologia histórica de Foucault a dimensão do sujeito do conhecimento pode ser percebida como Zeitgeist. O sujeito agindo sobre os outros é evidente a dimensão do Volksgeist. Já o sujeito da ética nos remete à percepção e as práticas do Weltgeist.

Estas três dimensões possuem um poderoso suporte na vontade humana. Vontade humana expressa nas circunstâncias da informação numérica digital e que potencializam, como jamais, o conhecimento das necessidades humanas básicas e culturais. Esta vontade permite realizar o que Worringer expressou a partir de Alois Riegel (1858-1905)[32] que percebeu esta energia nas forças que movem a Arte como dos instrumentos humanos para perceber, recolher e sistematizar os vestígios deixados pelas práticas artísticas. Worringer escreveu (1957: 21)[33] que isto é significativo “ao considerar a história da arte não como uma simples história da capacidade artística, mas como uma história da vontade artística, adquire uma significação universal”. Esta vontade é universal na espécie humana na concepção de Mário Pedrosa ao afirmar (1949: 151)[34] que “a vontade da arte se manifesta em qualquer homem de nossa terra, independente do seu  mediano, seja ele papua ou cafuzo, brasileiro ou russo. Negro ou amarelo., letrado ou iletrado, equilibrado ou desequilibrado”. O historiador Marc Bloch escreveu (1976: 60) que “a investigação histórica admite, desde os primeiros passos, que o inquérito tenha já uma direção. De início está o espírito. Nunca em ciência alguma, foi fecunda observação passiva. Supondo, aliás, que seja possível”.

No entanto as necessidades básicas humanas são incontornáveis no âmbito desta tríplice ontologia histórica e base de qualquer edifício cultural ou material. Em tudo aquilo que se quer coletivo e uniforme redobra a atenção sobre poderes centralizados na política, na economia, na religião, na informação. Conforme Giulio Argan um projeto torna histórico tudo aquilo que se quer coletivo e uniforme tanto num ente individual ou coletivo.  O projeto do exercício destes poderes, de maneira uniforme e linear, necessita de uma consciência centralizada no âmbito da tripla dimensão do Zeitgeist, Weltgeist e do Volksgeist. Esta consciência centralizada e uniforme foi confiada ao Estado Nacional. Neste sentido Cohn[35] escreveu (1997 pp.10/11) que

“o Estado moderno e na sua existência e considerá-lo como ente “moral” que não se coloca acima da sociedade, mas é um órgão com funções especificas. Trata-se portanto de parcela da sociedade que não se destaca dela, mas da qual a própria sociedade exige iniciativa própria naquilo que ela não produz espontaneamente, que é a clara consciência das suas necessidades”. 

O ente moral necessita ser coerente com seus limites no controle, que um grupo pode exercer sobre a parcela considerada. A criatura humana é competente para realizar distinções dos limites entre o fundo e forma. Esta operação e possível e Maturana e Varela escreveram (1996: 34) ela se realiza na medida em que:  

 “o ato de assinalar qualquer ente, objeto, coisa ou unidade, que está associado ao fato de alguém poder realizar um ato de distinção que separa o assinalado como distinto do fundo. Cada vez que fazemos referência a algo, implícita ou explicitamente, estamos especificando um critério de distinção que assinala aquilo de que falamos e especifica suas propriedades como ente, unidade ou objeto. Essa é uma situação inteiramente quotidiana e não única, na qual estamos submergidos necessária e permanentemente”

Na origem do Estado Nacional esta distinção  é definida por grupos que se conhecem, interagem por meio de contratos implícitos ou explícitos. Estes se distinguem do fundo daqueles que são outros, estrangeiros e inimigos. Neste ambiente distinto do Estado como algo artificial a vista de todos, ele participa da mesma virtude da obra das artes visuais e que “não pode mentir” na concepção de Bereson[36]. O Estado contemporâneo não pode mentir quanto á sua origem industrial. Neste sentido Arendt escreveu 1983 : 375) que “na medida em que processos servem de modelo ao homo faber na época moderna, o Estado é reinventado para dar  uma forma a esses modelos dos processos”.

Na medida da consciência da origem e do processo industrial o  Estado Nacional guarda a sua proporção e espelhar-se na célula municipal na qual efetiva esta concepção de limite e de competência.  É o que um jornal de Porto Alegre reconheceu, em 2000, no seu editorial[37]:

prefeitos e vereadores são, até os limites longitudinais do eleitorado, as vozes mais respeitáveis, os referenciais mais certos e as garantias mais robustos de uma boa sugestão eleitoral. É que vereadores e prefeitos são do povo, como concidadãos, iguais a todos os outros. Atuam a sociedade no mesmo nível, com as mesmas reivindicações”

 A célula municipal permite o conhecimento do ente moral da nação e das suas circunstâncias[38].

 

0.5 -  FILTROS e MEDIAÇÕES da AUTORIDADE[39].

 

Os que desejam exercer o poder no paradigma da criação das circunstâncias da democracia[40] necessitam de filtros coerentes e de mediações competentes com o seu Poder Originário, quando constituídos em autoridades de um Estado contemporâneo. Para o conhecimento das mediações necessárias, entre a autoridade representativa e o poder do qual se origina, informação[41] numérica digital constitui um poderoso instrumento. Contudo são apenas mais algumas ferramentas, como tantas outras do presente e do passado. A sua simples identificação ou sua visão não possuem sentido maior para a criação das circunstâncias da Democracia. O dramaturgo, poeta e política Goethe[42] já se havia dado conta (1945: 13) desta falácia da simples e pura contemplação:

“o simples olhar não nos leva a parte alguma. Todo olhar transforma em considerar. Todo considerar em mediar, todo mediar em relacionar, assim cabe dizer que  o pouco que se olhe com atenção se está em plena atividade teorizante. Mas para faze-lo com consciência, conhecimento de si mesmo, liberdade e, para usarmos uma palavra atrevida, com ironia, eis aqui o que requer se a abstração temida deve ser inofensiva e o resultado empírico, esperando, palpitante e proveitoso”.

Os resultados - desta simples e pura contemplação - estão sujeitos à entropia e ao caos como qualquer ferramenta. O grego Platão[43] já distinguira (1985: 128, 2º vol) ao afirmar que:

  “estudaremos a astronomia, assim como a geometria, por meio de problemas, e abandonaremos os fenômenos do céu, se quisermos aprender verdadeiramente esta ciência e tornar útil a parte inteligente de nossa alma, de inútil que era antes”.

Como sujeitos somos convidados, pois,  para superar todas as mediações tendenciosas, inadequadas e de tutelas desastradas, no exercício da autoridade herdada pelo Estado central brasileiro do passado para atingir esta utilidade para a parte inteligente do nosso ânimo civil. Sujeitos na medida em que “a produção não cria apenas um objeto para o sujeito, mas também um sujeito para o objeto” na concepção de Marx (in Pedrosa, 1986: 119). Na contramão deste sujeito armam-se tutelas, mediações e intermediações que invadem todos os campos e saberes humanos que ignoram suas próprias competências e limites. Pior: naturalizam ou mitificam estas observações empíricas ou projetando utopias sem pé nem cabeça. “Os fatos em si mesmo não possuem sentido e são como pedras no caminho” escreveu Luís Fernando Veríssimo (1998: 12)[44]. Fatos neutros, mas passiveis de mitificados e assim somos convidados para a heteronímia da simples contemplação. Contemplação que admite o conceito e a prática da eternidade. Hannah Arendt coloca (1983 p.56) neste  conceito e prática de  eternidade:

 “o que importa, é que a experiência do eterno, em oposição aquela da imortalidade, não corresponde e não pode dar lugar a nenhuma atividade: mesmo a atividade mental que se segue em nós com a ajuda das palavras é incapaz de exprimi-la, ao contrário só serviria para interromper e arruinar a experiência (do eterno) em si mesma

O trabalho e ação humana buscam superar esta contradição entre Natureza e o ideal da Eternidade De um lado a Eternidade não abdica das exigências rigorosas para entender o ideal inatingível. No mundo atingível a autonomia dos campos sociais, políticos e administrativos não pode retornar às exigências da Natureza implacável nos seus vorazes ciclos que devoram a tudo e a todos.  O pensador francês, Pierre Bourdieu[45], tratou (1996b. p. 159) de colocar a possibilidade de sua complementariedade ao afirmar que:

“todos os mundos sociais relativamente autônomos, que chamo de campos - campo artístico, campo filosófico, etc.,.. - exigem daqueles que neles estão envolvidos um saber prático das leis de funcionamento desses universos, isto é, um habitus adquirido pela socialização prévia e/ou pôr aquela que praticada no próprio campo”.

De outro lado estes mundos estão próximos e dependem da Natureza. Enquanto isto as leis aspiram a serem eternas e intemporais.  Para Badiou[46], (1996: 109) “a natureza é o que do ser é rigorosamente normal”. Ele continua (1996:395) “a natureza é a normalidade recorrente. Assim o ser-natural realiza uma estabilidade, um equilíbrio maximal entre a apresentação e representação (+), entre presença (+) e a inclusão (+) entre situação (+) e o estado da situação(+)”. No plano estético o poeta Fernando Pessoa realiza com  precisão as distinções entre razão e natureza  ao escrever (1985: 64-5)[47]porque se compreende a natureza por fora; e não se compreende  por dentro; porque a Natureza não tem dentro senão era a Natureza”.  Enquanto isto Gele (1980: 133) afirma que

a razão exige a unidade como tal, isto é o genérico, enquanto a natureza solicita a variedade e a individualidade, e assim, cada uma delas procura chamar a si mesmo o homem. Perante o conflito entra duas forças cumpre a educação estética impor-se como mediadora, porque o seu fim consiste, segundo Schiller, em conferir às inclinações, tendências, sentimentos e impulsos, uma formação que as leve a participar na razão de tal modo que a razão e a espiritualidade ficam despojadas do caráter abstrato, para se unirem a Natureza como tal, e da carne e do seu sangue se enriquecerem”.

Estra busca de unidade pela razão constitui o terreno do mundo pragmático do administrador. O administrador é capaz de realizar o que o norte americano Rudolph P. Atcon[48] aplica ao conceito de Campo. Ele escreveu (1974: 3) como a razão se comporta no “ramo do conhecimento que reúne todas as matérias básicas, derivadas e aplicadas de sua competência”. Com este conceito a razão consegue a unidade na pluralidade da natureza. No entanto para atingir esta unidade, construída pela razão, ocorrem generalizações, apropriações e equívocos. As mediações desastradas, amadores ou de pura e simples tutela do bem público e universal pode ocorrer tanto na política como na administração. Nesta mediação da razão também é necessário distinguir o potencial da criação humana de sua eventual institucionalização pela razão unificadora. Esta distinção se evidencia em Genette no seu texto (1997: 262)[49] quando afirma que:

o que «faz» de um objeto, durante algum tempo, uma obra de arte, não é sua eleição por uma instituição museológica, mas a atenção estética que, segundo Goodmenn, fundamenta essa eleição, e que pode muito bem faltar: basta uma pequena olhada”.

O bem público e universal necessita esta atenção para distinguir conforme o mesmo Genette quando reitera (1997: 252) que “a relação artística, quer dizer a atribuição a um objeto artístico o estatuto de obra de arte, repousa sobre a dupla hipótese, fundada ou não, sobre seu caráter de artefato e sobre a intenção estética de seu produtor”. Para aumentar a atenção e grau de acuidade é necessário afastar ruídos, filtros inúteis ou obstruindo e atulham de ruinas desta atenção em relação unidade, construída pela razão e que interpõem e impedem o exercício da autoridade nestes campos[50]. Os ruídos, filtros inúteis que obstruem e atulham de ruinas provocam mais aversões no mal estar natural de qualquer civilização. Os candidatos a conquistar este poder central, apresentam-se como “os salvadores da pátria” e aparentando “candura” para seduzirem os seus eleitores. Como tais prometem transformar o tabu das aversões, ruídos e catástrofes do passado, em totens da mudança para o bem querer universal, paz e progresso continuado. Bem querer, paz e progresso linear uniforme subsumido em violenta ‘doxia’ avassaladora que Pierre Bourdieu descreveu (1996: 144) acontece:

 “quando as estruturas incorporadas e as estruturas objetivas estão de acordo, quando a percepção é constituída de acordo com as estruturas do que é percebido, tudo parece evidente, tudo parece dado. É, a experiência dóxica, pela qual atribuímos ao mundo uma crença mais profunda do que todas as crenças já que ela não se pensa como crença”.

 O próprio portador desta crença oculta o seu projeto real nesta “candidatura” mesmo que esteja consciente que ela tenha apenas e tão somente a conquista do poder. Qualquer dúvida ou vacilo neste projeto suscitaria e espalharia a insegurança, a desconfiança e o medo[51]. Sabem que a memória coletiva nacional brasileira cultiva péssimas lembranças da distância geográfica da corte lusitana e os abismos entre o rei e a origem do seu poder colonial. Diante destes abismos a política Brasil assimilou a heteronímia da sua vontade e da impossibilidade de qualquer mediação ou interação efetiva e produtiva. Esta heteronomia da vontade continuou o processo na imensidade do território nacional independente ao longo do Império e se prolongou ao longo da República. Para vencer este vazio, proliferaram caciques, coronéis e doutores que mediavam e mascaravam, à sua maneira, este poder ausente, enquanto o povo respondia com ironia, deboche e escárnio desta pseudo mediação.  Para o olhar do estrangeiro a nação brasileira aparentava uma falta total de coerência entre a sua administração e a sua autoridade[52]. Diante deste cenário o eleitor que cumprir formalmente a obrigação de votar e esqueceu nome em quem votou  ao sair da urna. Como não autonomia da sua vontade também não haverá sanção moral do seu ato, conforme Kant[53]. Antes não prestou atenção ao projeto de quem depositou apenas mais um número de voto. O eleitor sabe de antemão, e por experiência própria, a falácia das promessas que o candidato não irá cumprir quando eleito e que ele percebe apenas como mais um ardil.

A linearidade administrativa e a sua unidade carecem de sentido diante esta pseudo autoridade resultante do estelionato eleitoral Os atravessadores de influências violaram e  quebraram toda a coerência entre a hierarquia da autorização e o exercício efetivo do poder resultante desta dupla desmontagem. Quem de fato e de direito assume o poder são os atravessadores e mediadores de influências. O eleito, nas suas funções, jamais irá contrariar os interesses daqueles a quem deve o cargo.

Outro complicador desta coerência é o fato de que a pirâmide do poder federal brasileiro foi construída no vácuo e a partir do vértice e do centro[54]. A lei precede o fato e o urbano ao rural pelo fato de o Estado ser uma criação artificial. Não importa a pessoa humana que ocupe legalmente algum cargo neste poder artificial. Nesta pirâmide disfuncional, do poder brasileiro, o presidente, o primeiro ministro, o imperador, o rei ou o simples bedel, perderam a conexão com a origem do poder de seus cargos. A sua função é ocupar uma cadeira. Todos eles agem no vácuo deste poder central. Possuem chances mínimas de interagir com o conjunto desta estrutura construída no vácuo e a partir do vértice. Porém a tragédia se consuma quando estes ocupantes de cargos inventam funções, tentando preencher, ao se modo pessoal, este vácuo da pirâmide, que existe apenas legalmente e sem o reforço de um efetivo contrato nacional. Todos os ditadores caminharam e se orientaram por esta trágica vereda voluntarista.

Os atravessadores das influências ocupam este vazio e bloqueiam o espaço da autoridade legítima e coerente. Para atingir este projeto, danoso para a Nação, subvertem, reinterpretam, ao seu modo e  para o seu proveito próprio e quebram toda a hierarquia da autorização do poder. A vítima preferida é a própria hierarquia do poder. Esta hierarquia é atropelada pelos atravessadores das influências. A forma preferida de atropelamento e desqualificação deste administrador e do servidor público é a “plantação” de meias verdades e o bombardeio com noticias alarmantes[55]. O administrador é desqualificado como pessoa como agente[56] do bem publico. Este administrador e servidor público vingam-se quando ele percebe algum vazio de uma lei. As descobertas ou alertas sobre destes vazios são graças à sua intimidade com esta lei.  Conhecem as desastradas mediações, fraquezas e das aversões no exercício da autoridade, herdadas do passado, do Estado central brasileiro. Diante de tantos fatores, a impunidade ganha ares de certeza mesmo que seja para escravizar o seu semelhante[57]. Com esta certeza personaliza o poder nas suas próprias mãos e o naturaliza dando livre curso ao seu onisciente, ao seu onipotente, e o quer eterno e universal em atos de desvios funcionais. As narrativas históricas favoráveis a ele podem praticar também esta façanha. Isto é possível, pois a narrativa histórica para Chartier (1998: 246) abrange “a compreensão da história é construída na e pela narração. Coloca como central a possibilidade de inteligibilidade do fenômeno histórico a partir da localização dos seus traços acessíveis”. Para os corruptos e corruptores a construção desta inteligibilidade é mero detalhe. Hannah Arendt reforça  (1983: 251) pois que  “mesmo que a história seja o resultado das ações humanas, não é o ator,  mas o narrador que ‘faz’ a história”. Os atravessadores busca fazer esta história. Dominam todo este arsenal do poder e gozam da fortuna de manter qualquer ordem que lhes é favorável. Não permitem que as informações relativas a qualquer das suas próprias corrupções cheguem ao conhecimento do ocupante do cargo máximo e, muito menos ainda, ao seu Poder Originário.

O trabalho intelectual não faz sentido e só atrapalham aos mediadores, atravessadores e aquele que se dizem tutelares da massa ignara. A posição do intelectual sempre foi esta ao longo da civilização pragmática ocidental. Hannah Arendt as expõe (1983: 137) estas circunstâncias do trabalho intelectual como

é conveniente lembrar-se aqui que durante toda a História Antiga os serviços «intelectuais» dos escribas, tanto no domínio público como no domínio privado, foram executados por escravos e julgados como tais. É a burocratização do Império Romano, acompanhado com a elevação social e política dos imperadores, provocou uma revalorização dos serviços «intelectuais»”

Mediadores, atravessadores e os que se dizem tutelares da massa ignara editam versões filtradas por intelectuais e os metamorfoseiam em propaganda e do marketing nos quais escamoteia o seu interesse pelo poder em todas as dimensões.

Por mais neutro aparente ser o campo da própria Ciência, ela não escapa deste controle espúrio, legitimação duvidosa e validação externa à ela mesma. Submetem todo manual científico à sua autoridade de atravessadores e tutelares da Ciência. O teórico  Kuhn, escreveu (1997 p. 174) que:

 “grande parte da imagem que cientistas e leigos têm da atividade científica criadora provém de uma fonte autoritária que disfarça sistematicamente - em parte devido a razões funcionais importantes - a existência e o significado das revoluções científicas. Somente após o reconhecimento e a análise dessa autoridade é que poderemos esperar que os exemplos históricos passe a ser plenamente efetivos

Os recentes trabalhos e as descobertas de Alan Turing (1912-1954)[58] ou os antigos de Galileu Galilei(1564-1642)[59] bastam para exemplos desta tutela externa que incluíram a prisão física e mortíferas investidas da Santa Inquisição. Tutelares para os quais basta serem portadores de qualquer título específico ou prêmio em qualquer evento pontual, para corromperem tudo que o cerca com seu “conhecimento” universal. A saudável publicidade administrativa é transformada, por estes doutores e premiados, num passo de mágica, em propaganda e em marketing do seu limitado mundo pessoal. A informática numérica digital possibilita, também, aos atravessadores interesseiros subverter, quebrar e esfacelar a saudável publicidade da lógica administrativa e desmontar qualquer hierarquia.

No contraditório, a mesma informática numérica digital permite conhecer diretamente a intimidade da realidade vivida pelo povo. Não há mais a necessidade das escapadas de D. Pedro I do palácio ou de Nilo Peçanha andar de bonde para conhecer o povo. Graças aos meios de comunicação numérica digital o povo chega diretamente ao núcleo do poder sem outros filtros e sem as mediações dos cortesões e vice-versa.  A informática numérica digital permite a circulação das informações da realidade que ele vive. Não há necessidade de uma lei da transparência, além de servir de alerta aos novos e antigos atravessadores de interesses escusos.

A informática numérica digital permite a dupla via de circulação do poder e, ao mesmo tempo, não quebrar a hierarquia originária da Nação. Esta circulação é reforçada pela concepção da circulação do poder em rede e na prática. Na área de concepção desta rede Giulio Argan esclarece (1992: 58) que

o importante é que  a pesquisa não leve a isolar um fato ou um grupo de fatos, mas discernir um nó de relações, e que se tenha consciência de que, além da zona iluminada da pesquisa, essas relações se estendem e se ramificam ao infinito, a todas a área ilimitada dos fenômenos artísticos, não importa de que época e cultura

Na prática este fluxo do Poder Originário circula nos âmbitos “das ciências organizativas incluem o distrito, a rede, lobby, manegement by objetives, project work, congresso  permanente”, numa enumeração sumária (1997: 18) do italiano De Masi. Da mesma forma o Poder Originário circula envolvendo o pátrio poder, a célula municipal, passando pela região e dirigindo-se ao núcleo do poder central sempre em dupla via de ida e volta no âmbito da hierarquia. Hierarquia que emerge da soberania de um pacto nacional expresso, factível e aceito universalmente num contrato.  Contrato que Hannah Arendt descreveu (1983: 311) como “a força que assegura a coesão, distinta do espaço das aparências nas quais se reúnem e do poder que conserva o espaço público, é a força das promessas mútuas, do contrato”.   Arendt vale-se ainda do contraste com estágio anterior (1983 : 239) 311, 312) onde “a sociedade depois da retirada da coerção física (tirania) e espiritual (religião), estrutura-se, a partir do iluminismo, na esperança contratual celebrado nas promessas mútuas do contrato”. Contrato que permite a circulação continuada do poder, evidencia, afasta e reduz, ao mínimo, os filtros disfuncionais  e mediações corruptas e corruptoras.

Esta circulação - resultante da informática numérica digital -  contrasta com estágio anterior da lógica da era industrial.  A informática numérica digital funciona em todos os dias do ano,  sete dias por semana, 24 horas por dia e sem feriados ou interrupção de férias. Este processo é completamente diferente da fábrica das 40 horas semanais e dos prédios fechados nos finais de semana e que também determinava o ritmo do trabalho no poder estatal. Garante o funcionamento continuado do poder central conectado à todas as células locais com sua circulação ininterrupta.

Esta conexão passa pela expressão humana que é potencial sem idade e que ultrapassa os códigos falados e escritos. A criatura humana pode-se valer desta expressão em qualquer, cultura tempo e lugar. O poeta Goethe escrevia (1945: 11) que:

definitivamente tratamos em vão expressar a essência de uma coisa. Percebemos efeitos sim, e uma história completa dos efeitos abrangeria melhor a essência da dita coisa. Esforçamo-nos em vão em descrever o caráter de um homem, mas se recolhermos os seus atos e ações surgirá deles, uma imagem do caráter”.

Esta imagem se tornará particularmente viva e nítida, se observarmos esta criatura, ou coletividade, mergulhada e reagindo perante dificuldades. Chartier constata (1998: 96) isto quando “a tensão inventiva dos indivíduos ou comunidade face aos constrangimentos, normas e convenções revela o que lhe é possível pensar, enunciar e fazer”.

Basta prestar atenção ao papel dos editoriais dos jornais que tratam normalmente de constrangimentos, normas e convenções de uma coletividade. Os editorais dos periódicos, podem ser apropriados e potencializados na era da informática numérica digital. Os editoriais dos jornais constituem um dos instrumentos da tradição vinda da era industrial. Na era industrial possuem normalmente circulação muito restrita. Os jornais e os seus editoriais são publicados em todos os recantos do território nacional por pessoas que percebem o mundo através de sua realidade e as circunstâncias que os cerca[60]. Este ‘setor’ da comunicação dos jornais periódicos congrega  áreas afins por sua natureza e os seus objetivos Atcon, (1974: 5) que se reforçam ao prestarem atenção ao mundo quotidiano brasileiro do qual extraem o que é significativo e relevante para o Poder Originário. Sintetizam editam e fazem circular a no espaço público. Como tais trabalham não só para si mesmo e para o seu público de apoiadores, mas também em função dos seus ‘pares concorrentes’ na concepção de Bourdieu (1987: 108)[61].  Os editoriais possuem potencialidades insuspeitas na nova época numérica digital para poder gerado na origem na política e na administração de um governo. A informática numérica digital (Internet) permite enviar os editoriais em tempo real ao centro do poder ao mesmo tempo em que são impressos na linha de montagem gráfica. Ao longo da noite eles podem ser sistematizados por equipes de cada região brasileira e que abastecem as pautas do núcleo do poder central que as discute as 07h00 da manhã. Formam matéria de um macro-editorial do poder central nacional que retorna, no mesmo dia, à sua origem. Trata-se de vias de mão dupla da circulação de informações, distante do elogio reciproco, de filtragem ideológica e da mediação de atravessadores de interesses escusos e pessoais.

O presente texto está atravessado pela dúvida e pela desconfiança do trabalho do mediador. Ao mesmo tempo está consciente que este texto só possui sentido para os pares concorrentes. Pares concorrentes que Bourdieu caracterizou (1987: 108) como “o escritor escreve e o artista produz para pares concorrentes. Só existe na relação circular de conhecimento recíproco entre artistas, os escritores e os eruditos”. Pares concorrentes que alimentaram o positivismo. Estes pares concorrentes tutelaram e desenvolveram o pensamento do cidadão francês Isodore Auguste Marie François Xavier Comte (1798-1852) transfigurando-se nos seus mediadores Um cortejo funesto de tutelares e mediadores transformou o pensamento coerente de Karl Marx em comunismo e que se expressa nas mais contraditórias ideologias que obscurecem e corrompem os textos originais. O mesmo aconteceu com os textos do Corão, da Bíblia ou escritos religiosos de todos os tempos. Eles também oportunizaram o surgimento de outros tantos cortejos funestos de mediadores, de conflitos e de guerras de ortodoxia entre os ditos seguidores. Não se trata de fazer a distinção weberiana entre profetas e sacerdotes, mas do singelo fato de remeter aos textos originais a serem lidos pelos atuais observadores para que estes tirem as SUAS conclusões coerentes com o seu próprio tempo e lugar.

A leitura, o estudo, as conclusões e a socialização destes textos foram confiadas aos denominados intelectuais. Eles não formam uma classe pois Mota, afirma (1980: 220) que “a intelectualidade não constitui uma classe, mas acaba por plantar seus frutos em campos sociais específicos”. Arendt desmistifica (1983: 137) a sua origem e a sua função “é conveniente lembrar-se que durante a História Antiga os serviços «intelectuais» dos escribas, tanto no domínio público como no domínio privado., foram executados por escravos e julgados como tais. É a burocratização do Império Romano, acompanhado com a elevação social e política dos imperadores, provocou uma revitalização dos serviços intelectuais”. Com a queda deste Império voltaram para serviços manuais de copistas

   Estes copistas foram substituídos pela imprensa e na era numérica digital estes textos originais estão disponíveis em rede mundial. Assim evoluem dos textos manuscritos e únicos na era agrícola, múltiplos na era industrial e cuja divulgação e sua hermenêutica eram pretextos e a motivações para os atravessadores e os mediadores armarem as cenas de marketing e propaganda oral e depois impressa. Porém o que é comum à era agrícola, industrial ou virtual é que os mediadores do marketing e da propaganda se percebem compelidos para rebaixar as mensagens originais para meia cultura. O nível intelectual deste marketing e propaganda é destinado a um receptor de aos 12 anos do ser humano.

 

  0.6 - O PODER ORIGINÁRIO e a ERA NUMÉRICA DIGITAL.

 

Apesar de todas as potenciais vantagens da era da informática numérica digital, sobre a industrial ou agrícola, ela continua a impor a necessidade de escolher uma proporção. Neste aspecto a era da informática numérica digital continua a cultura industrial ou agrícola de querer abranger a amplidão de um país continental, como o Brasil, mantendo a proporção por meio da sua identidade na diversidade nacional.

Nesta busca da proporção não se pretende uma unidade monolítica e totalitária a ser implementada por meio da era numérica digital seja o “quarto poder” ao estilo do “Big-Brother” de Orwell[62]. Ao contrário, especula-se que a informação numérica virtual ainda possui potencial para constituir-se em suporte e facilite a circulação do poder e da cidadania mantendo a unidade na diversidade e originalidade. Para tanto impõe-se alertar, ainda, sobre as complicações do uso deste poder para circunstâncias inadequadas[63]. Não se argumenta que ela seja o derradeiro estágio da civilização humana, mais uma arma ou, pior ainda, a  naturalização da cultura.

 A era numérica digital possui um limite drástico pelo fato de apenas constituir-se em MAIS UMA nova tecnologia. Como nova a era numérica virtual imprime uma nova velocidade no seu fluxo no tempo, possui uma abrangência cumulativa simultaneidade proveniente das informações anteriores das quais se apropria ao longo do trânsito por este mundo cultural . Esta base técnica garante a rápida reversibilidade para as fontes desta a informação numérica virtual, garantindo a sua cientificidade. Esta informação pode ser esmiuçada, em infinitas partes, permitindo a sua análise mais detalhada e, ao mesmo tempo inscrevê-la no continuo de uma conduta cultural[64] da qual se origina. No âmbito da continuidade de uma conduta cultural obedece e se concretiza no que Leonardo da Vinci já havia previsto:  “tudo aquilo que é contínuo, pode ser dividido em infinitas partes“[65] Continuo dividido em infinitas partes e que permite a sua reprodutibilidade constante e fiel é por tempo e lugares indeterminados. Ao mesmo tempo estas partes são distintas como significantes de uma metáfora flutuante. Marchán Fiz esclareceu (1996: 242) que “na obra artística o significante e o significado são assimétricos, isto é não se relacionam de modo linear, não se acoplam como um molde”. Passado e presente não se acoplam apesar de pertencerem ao mesmo continuo. Apesar de na atualidade ainda predominam traços de hábitos de uma cultura proveniente do suporte tecnológico da era agrícola, estes presente é algo distinto e próprio do tempo e lugar. Apesar de autoridade e o poder resistem e se agarram aos hábitos disfuncionais está face à realidade que exige a percepção da cultura da era numérica digital pelos agentes deste poder. Este poder disfuncional é lento, está envolto em mitos e circula num bloco monolítico. Os seus suportes ideológicos estão caducos, pois pendem para o ritmo e exigência da Terra e do bloco monolítico da Natureza resistente a dividir-se em infinitas partes. Nestas culturas disfuncionais os infinitos desdobramentos estão fora de cogitação, pois desvelariam rapidamente às matrizes do poder unívoco, totalitário e parado no tempo. Este poder corresponde à posse física e inalienável de bens e de pessoas. Este poder forma uma pirâmide em cujo vértice coloca-se um único indivíduo legitimado e tido como sagrado. Esta posse do poder - por tempo indeterminado e de forma absoluta e eterna - é o ideal pretendido pelo regime colonial,  reinol e  imperial do Brasil. Porém não faltaram avisos contrários esta pretensão idealista e separada do poder. A voz de Michel Foucault em relação à microfísica do poder é cada vez mais contundente e é difícil ignorar. Segundo ele (1995)  é força camuflada pela violência pontual e disseminada nos interstício sociais.

Esta micro física do poder destilou, ao longo da era industrial e injetou nestas  interstício sociais uma forma de poder no qual o voto constitui uma autoridade individualizada por períodos de tempo predeterminados. Aparentemente busca contrariar a aparência da forma absoluta e eterna a linha de montagem. Contudo é só na aparência sobre quem recai a culpa de tudo continua intacto o sistema. Estes indivíduos são substituídos no final destes períodos como obsoletos e os devolvidos à multidão anônima. Apesar de funcionar na prática, os seus hábitos correspondentes ainda não foram assimilados pela cultura que se orienta ainda pela era agrícola. No Brasil o grande contingente populacional está muito próximo dos hábitos e da mentalidade rural, pois a urbanização e a era industrial são fenômenos recentes e ainda não assimilados pela maioria da população ainda que tenha nascida no meio urbano.

No meio urbano a informação numérica virtual permite desvendar a origem do poder. Permite transformá-lo rapidamente em autoridade mantendo aceso o ciclo desta renovação. Mantém coerente com as necessidades e os paradigmas diferenciados que emergem inesperadamente de uma forma continuada no tempo num meio em constantes mudanças. No lugar da clássica pirâmide estática da autoridade da era agrícola o poder, derivado da informação numérica e virtual.  O poder está distribuído em núcleos nos quais circula em rede na qual se articula ao sabor de matrizes e da matemática quântica.

Contudo no contraditório, o meio rural - sob as condições da informação numérica virtual - surpreendente e responde mais rápido do que o urbano. A razão poder ser que o seu peso quantitativo é menor e se convence sem evidenciar muitas resistências da necessidade de mudanças imediatas e profundas.

Todo e qualquer sistema necessita de energia própria para fazê-lo circular de uma forma homeostática entre as pulsões contraditórias e vivas. Quando o poder necessita de permanente atualização desta homeostática seria desperdício de energia retornar insistir e cultivar sistemas obsoletos e já sem suporte de uma infraestrutura obsoleta. Estruturas obsoletas como os manuais aos quais  Kuhn dedica acerba critica (1997: 17) pois:

 “os manuais começam truncando a compreensão do cientista a respeito da história de sua própria disciplina e em seguida fornecem um substituto para aquilo que eliminaram. É característica dos manuais científicos conterem apenas um pouco de história, seja um capítulo introdutório, seja, como acontece mais frequentemente, em referências dispersas aos grandes heróis de uma época anterior. Através dessas referências tanto estudantes como profissionais sentem-se participando de uma longa tradição histórica. Contudo, a tradição derivada dos manuais, da qual os cientistas sentem-se participantes, jamais existiu”.

A mitificação ou a naturalização dos tratados e os exaustivos códices de leis de todos os tempos pode tornar-se exemplares, obras admiráveis e índices de civilizações passadas. São desafios que mergulham a sua forca cultural no presente. Porém no presente necessitam da energia para fazê-lo circular de uma forma homeostática entre as pulsões contraditórias e vivas. Este é papel do Legislativo é competente para planejar e prever o fato futuro por mérito da informação numérica virtual, e pelo uso de dados disponíveis da realidade. O Executivo ao dispor de abundantes e atualizadas informações numéricas virtuais segue um Legislativo competente para  transformar a intenção em vontade e concretizando o fato previsto pela lei. O Judiciário julga o fato consumado concretizado no ato administrativo. Perscruta e interpreta a intenção em bases reais, julga o ato e confere o seu mérito. Esta é a lógica do poder da era industrial.  O Poder Originário complementa a linha de montagem da fábrica superando-a, municiado por uma informação numérica virtual. Este tipo de informação confere um sentido para esta série linear e consecutiva da intenção, do ato e do mérito. Série que se admite como uma noção derivada da semiótica nascida em função e para o âmbito da indústria. Neste âmbito existe basicamente uma circulação que podem ser enumeradas como entrada de insumos, a sua elaboração, seu controle e distribuição seguida pelo seu consumo. Estas operações são separadas entre si. Nenhuma agente domina o processo todo e que se encadeiam mecanicamente pela linha de montagem central. Na maioria das vezes resulta em operações fragmentadas previstas pelo design e executada por mão de obra treinada e especializada para aquela operação específica. A informação numérica virtual em rede supera a lógica da fábrica devido à energia revelada pela do “tempo real” ou “just in time” na qual circula o poder com mais intensidade e potência e colocado entre a  intenção, o ato e o mérito.

Diante da realidade proveniente da matemática quântica as formas do poder do passado não possuem mais condições de acompanhar a criação e a circulação de uma autoridade que obedece à matrizes arcaicas. O quotidiano da criatura humana é constituído, cada vez mais pelo conhecimento do código genético, pelo uso da vontade abastecida nas fronteiras inexploradas da origem da energia e do direito de usufruir da comunicação, próxima da velocidade e da energia da luz.

 

 

 



[1] - MERQUIOR, José Guilherme «Hoje a direita é a esquerda» in Jornal do Brasil : Rio de Janeiro, ano 100,  n° 252,  p. 15,. 1ª c., 16.12.1990.

 

[2] - OLIVEN, Ruben George - A parte e o todo: a diversidade cultural no Brasil - Nação.  Petrópolis: Vozes 1992.  143p.

 

[3] - FOUCAULT, Michel (1926-1984).  Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1995. 295.

 

[4] VATIMO  Gianni La verdad se defenderá sola Buenos Aires : Clarin Revista de Cultura - Ideas Miércoles 19 de diciembre de 2012, 11h56 min

https://www.revistaenie.clarin.com/ideas/Gianni-Vattimo-Despues-muerte-Dios_0_829117122.html

 

[5] - ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural, 1973. 329p.

 

[6] - MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da cultura brasileira  1933-1974. Pontos de  partida para uma revisão histórica. 4.ed.  São Paulo  : Ática, 1980. 303 p.

 

[7] -- MATURANA R., Humberto (1928-) e VARELA. Francisco (1946-). El árbol del  conocimiento: las bases biológicas del conocimiento humano. Madrid : Unigraf. 1996a, 219p.

----- La realidad: ¿objetiva o construida?. Barcelona : Antropos, 1996b. 159 p.

 

[8]  - BOURDIEU, Pierre ( *1.8.1930 - †23.1.2002) Le Sens Pratique. Paris : Minuit . 1994,474

 

[9] - BOÉTIE, Etienne La (1530-1563).  Discurso da Servidão Voluntária (1549).  Tradução de Laymert G. dos Santos.  Comentários de Claude Lefort e Marilena Chauí.  São Paulo : Brasiliense, 1982. 239p

[11] - GUIMARÃES ROSA, João (1908 – 1967) Grande Sertão : Veredas. Rio de Janeiro : José Olympio. 1963.  571p

[12] - LADRIÈRE, Jean. Les enjeux de la rationalité: le défi da science et la technologie aux  cultures. Paris: Aubier-Montaigne/UNESCO, 1977. 221p .

 

[13] - DIDI-HUBERMAN, Georges. La ressemblance informe : ou le gai visuel selon Georges Bastille. Paris : Macula  1995  399p.

[14] - ARGAN, Giulio Carlo (1909-1992) . História da arte como história da cidade.   São Paulo :  Martins Fontes. 1992.

 

[15] - PAIXÃO CORTES, João Carlos. Aspectos da música e fonografias gaúchas. Porto Alegre: Repressom   1984     117p.

 

[16] -  PEDROSA, Mário.  Mundo, homem, arte em crise.  (2ª.ed). São Paulo : Perspectiva, 1986. 323p.

 

[17]  - DANTO, Arthur L’assujettiessement philosophique de l’art. Paris: Seul, 1993, 267 p

 

[18] -  BRUYNE, Paul de Dinâmica da pesquisa em ciências sociais: os polos da prática  metodológica. Rio de Janeiro : Francisco, 1977. 235p.

[19] - FICHTE, Johann Gottlieb (1762-1814) «Introdução à teoria do Estado» in .Fichte2.ed.  São Paulo: Abril Cultural, 1984, pp. 295-313.

 

[20]  - WEBER, Max. (Karl Emil Maximilian 1864-1920). A ética protestante e o espírito do capitalismo. (5ª.ed). Barcelona:  Península, 1985. 262p.

 

[21] - FREUD, Sigmund.(1858-1939).O mal estar na civilização (1930). Rio de Janeiro : Imago, 1974. pp. 66-150.  (Edição standard brasileira de obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v.13)

 

[22] -  FAVERO, Maria de Lourdes de Albuquerque.  Universidade e Poder. Rio de Janeiro:  Archimé, 1980. 208p.

[23]  - SCHILLER, Friedrich (1759-1805) Sobre a Educação Estética. São Paulo: Herder, 1963. 134 p.

 

[24]   - DURKHEIM, Emile (1858-1917). As regras do método sociológico (2ª ed). São Paulo:  Abril Cultural, 1983, pp.71/161

 

[25]  - TOFFLER, Alvin. The third wave.  New York.  William Marrow & Compagny, 1980.

[26]  - BERMAN Marshall – Tudo que é sólido desmancha no ar: aventura da modernidade Rio de Janeiro : Companhia das Letras, 1987, 360 p.

 

[27]   LEON, Aurora.  El Museu: teoria, práxis y utopia. Madrid : Cátedra, 1995. 378 p.

 

[28]FLORIDI  Luciano, Filosofia da Informação Ou: não somos ilimitados no plano das ideias” https://www.ufrgs.br/alanturingbrasil2012/presentation-RuyQueiroz-ptBR.pdf  

 

[29]  - PIAGET, Jean (1896-1980)  Epistemologia Genética(2ª ed) São Paulo : Abril Cultural. 1983.  294 p

 

[30] - KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas.  (5ª.ed). São Paulo: Perspectiva. 1997. 257p.

 

[31] - SIMMEL, Georg  Sociología y estudios sobre las formas de socialización. Madrid :  Alianza. 1986,  817.  2v.

 

[33] - WORRINGER,  Wilhelm (1881 - 1965) La esencia del estilo gótico.(1ª ed. 1911) Buenos Aires: Nueva Visión,   1957. 144p.

 

[34] - PEDROSA, Mário.  Arte: necessidade vital. Rio de Janeiro : Casa do Estudante do  Brasil, 1949. 235p

 

[35] - COHN, Gabriel «Durkheim: a busca da unidade num mundo dividido» Folha de São Paulo: SP, ano 77, n° 25.044, cad. 05, 16.11.1997

 

[36] BERENSON Bernard Estetica e historia em las Artes Visuales – México,D.F : Fondo de Cultura Econômica, 1956, 265 p

 

[37] CORREIO do POVO, Porto Alegre,  «Hora, vez e lugar da reação» in Correio do Povo – Porto Alegre – ano 105, n° 283, 09.07.2000 – editorial

 

[38] VARGAS, Edemar in «A vida acontece no município»  “O cidadão nasce no município, cresce no município»»” Correio do Povo – Porto Alegre – ano 100, n° 270,  27.06.1995 p.4

 

[39] - Texto escrito originalmente pelo autor em 02.01.1993

 

[40] - LEFORT, Claude. A invenção democrática: Os limites da dominação totalitária. Paris. Libr. Fayard, 1981 São  Paulo : Brasiliense, 1983. 247 p.

 

[41] - PIGNATARI  Décio(1927- 2012) Informação. Linguagem. Comunicação. São Paulo : Atelie Editorial, 3003, 155 p.

 

[42]  - GOETHE, Johann Wolfgang von.- Teoria de los colores. Buenos Aires:1945. 466p.

 

[43]PLATÃO (427-347 a.C) – A REPÚBLICA – Tradução de J. Guinsburg  2º volume . São Paulo : Difusão Europeia do Livro, 1985, 281 p.                                https://pt.scribd.com/doc/28055175/Platao-A-Republica-Vol-II-Do-V-ao-X-livro

 

[44] - VERÍSSIMO, Luís Fernando. «Quermesse». Zero Hora. Porto Alegre, Revista ZH, 35,  nº 12.136. Revista ZH, 08.11.1998, p. 12.

 

[45] -  BOURDIEU, Pierre ( 1930 -2002) As regras da arte: gênese e estrutura do campo literário. São Paulo : Companhia das Letras, 1996a. 421p.

 ____. Razões práticas: sobre a teoria da ação.  Campinas : Papirus,  1996b. 231p.

 

[46] -  BADIOU, Alain.   O ser e o evento.   Rio de Janeiro  : Zahar- UFRJ, 1996.  402p.

 

[47] - PESSOA, Fernando. Poemas. (6ª.ed). Rio de Janeiro: Nova Fronteira,  1985.  159 p

 

[48]  - ATCON, Rudolph P. ATCON e a Universidade Brasileira. (Coordenação de José  Serrano). Rio de Janeiro  : Techné. 1974, 322p.

 

[49] - GENETTE, Gérard.L’œuvre de l’art:la relation esthétique. Paris:Seuil.1997.  293p.

 

[50] - FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. Porto Alegre – São Paulo : Globo e USP, 1975.  2v.

 

[51] - VERÍSSIMO, Luis Fernando « A pior das  hipóteses» in Zero Hora- Porto Alegre – ano 28, n° 8.876 24.12.1989 contracapa

 

[52]  - FEATHERSTONE, Mike. O desmanche da Cultura: globalização, pós-modernismo e identidade. São Paulo : SESC – Studio Nobel, 1997. 239p.

 

[53]KANT, Emmanuel (1742-1804). Crítica da razão prática. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d.  255p.

______. Crítica da Razão Pura.  Trad. J. Rodrigues de Moraes. Rio de Janeiro: Tecnoprint. S/d. 271p.

[54] - VARGAS, Getúlio.  A nova política do Brasil.  Rio de Janeiro : José Olympio, 1938. v. 5

 

[55] - BRAGA, Políbio “As primeiras informações sobre as receitas e despesas são alarmantes” in «Funcionalismo» Correio do Povo, Porto Alegre, ano 101, n° 321, 16.08.1996.

 

[56] - DE MASI, Domenico. A emoção e a regra: os grupos criativos na Europa de 1850 a 1950.  Rio de Janeiro: José Olympio, 1997, 419 p.

 

[57] - CORREIO do POVO «Quatro são libertados de trabalho escravo». Posto Alegre - ano 113, nº 314 p.30, Sábado , 9 de agosto de 2008

[60] - O presente texto valeu-se de numerosas editorias de jornais impressos. Ente elas alguns contam como anexos no final.

 

[61] - BOURDIEU, Pierre ( *1.8.1930 - †23.1.2002) Economia das trocas simbólicas. São Paulo: EDUSP- Perspectiva,  1987.  361p.

 

 

[62] - ORWELL, George 1984 (29ª ed). São Paulo : Nacional, 2008 301 p - O “Big – Brother” é uma figura do livro publicado em 1949  com o  titulo “1984”  pelo escritor   George Orwell nascido na Índia em 1903 e que morreu na Inglaterra de tuberculose em 1950

 

[63]  - PINHEIRO, Ibsen «Só a informatização não basta. Há ainda a questão política» Zero Hora, Porto Alegre, ano 27, n° 9.342 ,

              01.04.1991

 

[64]  Na concepção de Maturana e Varela, (1996, p. 174)“Entendemos por conduta cultural a estabilidade transgeracional de configurações adquiridas ontogeneticamente na dinâmica comunicativa de um meio social”.

 

[65] In - VALÉRY, Paul (1871-1945) Introdução ao método de Leonardo da Vinci (Ed Bilíngüe) São Paulo : Editora 34, 1998 256 p.